Introdução à Magia Salomônica

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Na tradição esotérica, a Magia Salomônica é um sistema mágico que encontra sua base no mais famoso dos grimórios: a Clavícula de Salomão. A autoria desse antigo texto é atribuída ao terceiro rei de Israel, o lendário Salomão. Segundo as histórias que atravessaram os séculos, Salomão possuía a habilidade de conjurar elementais, anjos e demônios, graças à sabedoria que Deus lhe concedera. Durante seu reinado, o conhecimento contido na Clavícula permitiu que Salomão navegasse em prosperidade e poder. Com a permissão dos céus, ele registrou todo esse saber em escritos sagrados. No entanto, temendo que tal poder caísse em mãos erradas, Salomão fez um pedido a seu filho, Roboão: que enterrasse o livro junto com ele em seu túmulo. Anos depois, filósofos babilônicos descobriram o sepulcro do antigo rei. Lá, encontraram a Clavícula de Salomão, revelando seus segredos ao mundo. Embora não seja minha intenção comprovar a historicidade dos fatos mencionados, é inegável que, no fim das contas, tudo se resume à fé. Considerei relevante apresentar uma breve introdução à mitologia que envolve a tradição salomônica, para que o leitor e o aspirante a mago possam se conectar com a egrégora. Dito isso, vamos explorar as correspondências planetárias, as horas planetárias e as fases da Lua.

Das correspondências planetárias e o porquê de existirem

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Na minha jornada, observei que, ao fornecer um conhecimento prático ao adepto sem explicar a teoria e o funcionamento por trás, geramos dúvidas que podem ocasionar na falta de fé e, consequentemente, no enfraquecimento do rito. Não cometerei esse erro ao falar das correspondências planetárias, mas para explicá-las, terei que vos fornecer um breve vislumbre da santa Cabala, que pra quem não sabe, é o lado místico do judaísmo, e de acordo com alguns, o fundamento de absolutamente todas as religiões do planeta, mas isso eu não posso confirmar, já que não estudei profundamente todas. Fato é que a Cabala se trata de um sistema universal, aplicável em qualquer situação, desde o corpo humano até a criação de Deus, e não será diferente para com as correspondências planetárias. Antes de tudo, gostaria de deixar claro que não sou mestre de nada, muito menos de Cabala, e por isso, me apoiarei, também, no ensino de Cornélio Agrippa, esse sim um grande cabalista, que trata desse mesmo assunto. Entretanto, tomarei a liberdade de trazer o meu próprio ponto de vista acerca do tema, a fim de facilitar o entendimento do leitor iniciante. Isto posto, vamos começar.

O que são as correspondências planetárias?

As correspondências planetárias são virtudes, características ou atributos remetentes às energias associadas aos planetas e estão presentes em todos os objetos do mundo material. Cada mineral, animal, vegetal, astro, dia, hora, lugar, móvel, órgão, membro e afins possuem uma correspondência planetária governante. Exemplo: Marte é o planeta associado à guerra, justiça, proteção e severidade. Dadas as virtudes de Marte, quais objetos são planetariamente correspondentes a esse astro? Posso citar aqui a espada e o escudo. Qual elemento? O fogo que pune e purifica. Qual cor? Vermelho, a cor da sangue, do ferro e do fogo; cor quente, excitante e violenta. Quais sabores? Aqueles picantes, ácidos e azedos. Muitas outras coisas poderiam ser trazidas para o estudo das correspondências marciais, mas acredito que os exemplos dados sejam suficientes para que o leitor absorva o conceito e entenda o que são as correspondências planetárias. Assim, tomarei a liberdade de prosseguir com o estudo, dessa vez tratando da origem dessas virtudes. De onde vêm essas “energias”? Para responder essa pergunta, recorrerei ao básico de Cabala e também a Cornélio Agrippa.

Por que as correspondências existem?

Segundo a tradição cabalista, a criação de Deus se deu por uma emanação e densificação gradual de Sua própria energia, dividindo-se em 4 mundos, que são eles:

Atzilut
Representado pelo elemento fogo. Aqui estão as esferas (ou “dimensões”) de Kether (Netuno), Chokmá (Urano) e Binah (Saturno);
Briah
Representado pelo elemento ar. Aqui estão as esferas de Chesed (Júpiter), Geburah (Marte) e Tipheret (Sol);
Yetzirah
Representado pelo elemento água. Aqui estão as esferas de Netzach (Vênus), Hod (Mercúrio) e Yesod (Lua);
Assiah
Representado pelo elemento terra. É o nosso mundo material, que percebemos pelos 5 sentidos. Aqui está a esfera de Malkuth (Terra).

O elemento Terra, associado ao mundo de Assiah, nada mais é do que a união dos 3 elementos anteriores. Isso significa dizer que as virtudes presentes nos 3 mundos superiores (Atzilut, Briah e Yetzirah) desaguam e se materializam no mundo físico (Assiah), visto que esse é o estágio final da energia divina.

Mas que virtudes são essas? São as virtudes das esferas presentes em cada mundo. Tomemos como exemplo a esfera de Geburah, do mundo de Briah. A virtude presente nessa esfera é a severidade, a justiça, a proteção: as virtudes de Marte. Utilizarei como exemplo a água e seus estados físicos. Supondo que a VIRTUDE severidade enquanto energia sutil seja o estado gasoso da água, conforme sua descida pelas esferas, ela passará para o estado líquido quando estiver no mundo de Yetzirah e, finalmente, para o estado sólido no mundo de Assiah. De maneira resumida, a VIRTUDE severidade existe de maneira sutil em sua essência na esfera de Geburah, mas se MATERIALIZA no mundo de Assiah como o metal ferro, a cor vermelha, a espada, o escudo, os cheiros e aromas fortes, o planeta Marte, etc.

Cornélio Agrippa chega a uma conclusão parecida no seu terceiro livro de filosofia oculta, mais especificamente no capítulo XII, intitulado “da influência dos nomes divinos através de todas as causas medianas sobre essas coisas inferiores”:

Ora, tudo que Deus faz por meio dos anjos, como seus ministros, o mesmo faz por meio dos céus, das estrelas, como por instrumentos, para que assim todas as coisas o sirvam, […] é, portanto, lógico que a virtude angelical dessa parte ou estrela seja aplicada às coisas, lugares, tempos e espécies. Nesse sentido, Agostinho, em seu Livro das Perguntas, diz que toda coisa visível nesse mundo tem um poder angelical a ela designado. Também Orígenes, no livro dos Números, diz que o mundo tem necessidade de anjos para comandar os exércitos da Terra, os reinos, as províncias, os homens, […], os arbustos, as plantas e outras coisas, dando-lhes aquela virtude que se diz existir neles, a partir de uma profecia oculta.

— Cornélio Agrippa, Três Livros de Filosofia Oculta, Livro III, capítulo XII.

A única grande diferença da posição de Agrippa para a minha é que ele atribui um papel especial aos anjos em relação ao manifestar das virtudes, o que, de maneira alguma, torna as duas posições excludentes, pois as esferas que eu afirmei serem a fonte das virtudes materializadas são, também, a morada dos coros angélicos. Tomando Geburah como exemplo, essa é a morada do coro dos Seraphim (ou potências, na tradição cristã), o qual é regido pelo Arcanjo Kamael.

Acredito que, com essas informações, o leitor já está perfeitamente instruído e não mais sofrerá com a falta de fé quando se deparar com o conceito de correspondências planetárias, que é crucial para a prática mágica. Isto posto, prosseguiremos para mais um assunto chave e de fundamental importância: as horas planetárias.

Das horas planetárias

Cada hora do dia possui uma correspondência planetária atribuída a si, devido à mesma lei que se aplica aos objetos, cores e aromas que citei no capítulo anterior. As horas planetárias são contadas de maneira diferente das horas convencionais. Enquanto o nosso dia começa à meia noite, **um dia planetário só começa quando o primeiro raio de sol aparece no céu.** Portanto, o início de um dia planetário vai variar entre as 5 e as 6 da manhã, a depender da região. Fornecerei uma tabela de horas planetárias que começa a contar o dia planetário a partir das 6, cabendo ao leitor adaptá-la para a sua região.

Para que servem as horas planetárias?

As horas planetárias indicam quais energias estão governando aquela região em um determinado período de tempo. O mago que possui esse conhecimento potencializará seus contatos espirituais ao iniciar o rito na hora planetária correspondente à entidade escolhida para contato. Exemplo: supondo que eu queira invocar o Arcanjo Kamael, da esfera de Geburah, eu irei pesquisar qual planeta é correspondente a ele, que nesse caso, é Marte. Irei, então, verificar o dia da semana correspondente a Marte, que é terça-feira. Após isso, de acordo com a tabela de horas planetárias, verificarei quais das horas são regidas por Marte e é em uma dessas horas que eu irei iniciar o rito. Uma dica que eu dou é baixar o aplicativo “Horas planetárias” na sua loja de apps mobile. Conceda o acesso à localização e o aplicativo fará o resto.

Existe um dia e hora planetária especial na tradição salomônica que aproveitarei pra tratar logo nesse capítulo: o dia e hora de Mercúrio.

O dia de Mercúrio, ou quarta-feira, é considerado pela tradição um dia neutro do ponto de vista energético, e é justamente por isso que as consagrações de ferramentas são feitas nesse dia.

Quando você consagra uma ferramenta no dia do Sol (domingo), por exemplo, a energia solar fica acumulada na ferramenta. Isso é ótimo para ritos solares, mas pode ser um problema ao trabalhar com energias de outros planetas, já que a ferramenta está “contaminada” com a energia do Sol. Consagrando as ferramentas no dia de Mercúrio, isso não acontece, pois Mercúrio é um planeta energeticamente neutro. Passemos adiante, dessa vez para tratar das fases da Lua.

Das fases da Lua

A fase em que a Lua se encontra é de essencial importância na prática de Magia salomônica. Por quê? De acordo com a Cabala, a primeira esfera acima do mundo material é Yesod, ou Fundamento, a esfera da Lua. Isso significa dizer que, no caminho de ascensão às esferas superiores, a primeira porta pela qual a nossa energia de Vontade passa é a porta da Lua. Portanto, esse astro possui um papel determinante na prática mágica, pois se é a sephirah lunar (Yesod) que “inicia” a ascensão rumo às esferas superiores, essa virtude também é verdadeira para o astro, visto que o satélite da Terra é a manifestação densa de Yesod. A natureza dos ritos determinará a fase da Lua a ser observada.

Lua Nova
Ideal para ritos que envolvam o início de alguma coisa, seja de uma amizade, namoro, negócio, etc. Se você planeja abrir uma loja, é interessante fazer um rito de prosperidade durante a Lua nova para ir de acordo com a sua Vontade, que é construir algo novo (loja) e torná-lo crescente (próspera);
Lua Crescente
Ideal para trabalhar com energias que você deseja aumentar. De preferência, algo que já esteja iniciado, mas isso não é uma regra. Se você vê que o seu namoro está esfriando e deseja fazer alguma coisa para aquecê-lo, é interessante trabalhar na Lua crescente, pois é uma energia (a conexão amorosa) que você deseja aumentar
Lua Cheia
Pode ser útil em ritos de natureza parecida com as duas fases anteriores, mas eu recomendo trabalhar energias que não precisem crescer de alguma forma, já que essa é a fase anterior à Lua minguante (decrescente). Na Lua cheia, sugiro trabalhar com ritos de proteção;
Lua Minguante
Útil para trabalhar energias que você deseja reduzir ou cortar. Caso você esteja triste por conta de um relacionamento recém terminado e sinta que não vai superar tão cedo, é interessante trabalhar um rompimento de laços na Lua minguante. É durante essa fase que você realizará os ritos de limpeza e destruição de inimigos. Vale acrescentar que, por se tratar de uma fase decrescente, toda consagração de ferramentas deve ser evitada, visto que a tendência energética dessa fase é diminuir, e não é esse o objetivo de uma consagração;